O atlas 2023 da Federação Mundial da Obesidade prevê que mais da metade da população global estará com sobrepeso ou obesidade em 2035 se medidas para prevenção e tratamento não forem tomadas. Estudos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) apontam que estar acima do peso ideal pode estar relacionado a mudanças fisiológicas e comportamentais do ser humano e não somente pela falta de uma alimentação saudável e balanceada. O professor Egberto Gaspar de Moura fala sobre esse assunto e a linha da pesquisa sobre Origens Desenvolvimentistas da Saúde e da Doença (DOHaD) no sétimo episódio da décima primeira temporada do Uerj Entrevista.

Egberto Gaspar é professor de Fisiologia e Fisiopatologia Endócrina no Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag/Uerj) e diretor do Centro de Estudos Estratégicos e Desenvolvimento (Ceed). É formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Uerj e possui mestrado e doutorado em Ciências Biológicas feitos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em outubro de 2020, o docente foi premiado com a medalha DOHaD Brasil, no Congresso Latino-americano da DOHaD Society, pelo seu trabalho de pesquisa na área.

O conceito DOHaD é baseado na hipótese de que fatores maternos, ambientais, de desenvolvimento e crescimento do feto e de crianças possuem influência no surgimento de doenças na vida adulta. Egberto explica que os estudos feitos no laboratório da Uerj são experimentais e que utilizam animais, como ratos ou camundongos, mas que também são usados estudos epidemiológicos e clínicos com populações de diversos países. Segundo ele, não seria ético lidar com humanos nas experimentações que servem para entender como as doenças associadas ao desenvolvimento programam o futuro.

Os primeiros mil dias de um bebê, que correspondem ao período de gestação e lactação até os dois anos de idade, é considerado por especialistas uma fase importante para a vida da criança, pois ali pode ser definido o padrão de saúde e doença ao longo da sua existência. Durante essa etapa, o organismo está sendo moldado e diferentes fatores atuam sobre ele, produzindo alterações no DNA, a epigenética. No caso da obesidade, a alimentação da mãe na gravidez e na amamentação pode influenciar no peso da pessoa no futuro.

Outro ponto abordado pelo professor Egberto é como os fatores externos podem afetar a saúde humana. Ele cita componentes plásticos, como garrafas PET, e agrotóxicos como elementos que podem causar problemas às pessoas e animais, levando até à infertilidade. “São necessários, mas a gente tem que ter uma indústria que comece a trabalhar com substitutos dessas substâncias porque elas afetam não só causando maior risco de obesidade, mas das doenças correlatas. E uma outra coisa totalmente perigosa é que elas afetam a nossa reprodução, não só a nossa como dos animais”, alerta o pesquisador.

A obesidade está constantemente associada à falta de uma boa alimentação e que a solução para perder peso seria apenas uma dieta saudável e equilibrada, vinculada à prática de exercícios físicos. Egberto reforça que outros fatores podem deixar uma pessoa acima do peso: “Temos consciência de que o obeso não é obeso porque quer, ele não tem essa opção. Ou é genético, que são casos raríssimos, ou é através da programação (metabólica)”. E para facilitar a reprogramação metabólica, estudos estão sendo realizados com substâncias, como o conjunto de agonistas do GLP-1, hormônio presente no intestino.

Ainda de acordo com o diretor do Ceed da Uerj, a cirurgia bariátrica é o melhor tratamento para grandes obesos. Em agosto deste ano, o núcleo de saúde mental da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) lançou um e-book com diretrizes de assistência psicológica para esse tipo de procedimento e aborda temas como aspectos psicológicos no tratamento cirúrgico da obesidade e a avaliação psicológica pré-operatória.

Para conscientizar a população sobre os riscos de estar acima do peso, são necessárias políticas públicas. Um importante passo é proibir o consumo de ultraprocessados em escolas, como fala Egberto no Uerj Entrevista, já que não é possível fazer com todas as pessoas. A Prefeitura do Rio de Janeiro sancionou a Lei 7.987/23, que não permite a venda e oferta de alimentos e bebidas que recebem adição excessiva de sal, açúcar, gorduras e substâncias industriais em escolas públicas e privadas.

Ouça, na íntegra, a participação de Egberto Gaspar no sétimo episódio da décima primeira temporada do Uerj Entrevista.