Como a tecnologia 3D pode ser aplicada às pesquisas científicas em diversas áreas do conhecimento, da arqueologia à medicina? Em que medida a inteligência artificial pode contribuir com a coleta e compostagem de resíduos orgânicos? Quais são os impactos de pesquisas em regiões polares nas áreas tropicais? Como reduzir custos por meio de novos métodos sensíveis para a detecção de poluentes na água? Essas e outras questões pautaram o segundo dia de debates do Uerj com RJ, que abordou o tema “Ciência e Tecnologia”, na tarde do dia 17 de outubro, no Teatro Noel Rosa, campus Maracanã da Uerj.

“Todos os dias, quando acordamos, somos impactados pela ciência, mas nem percebemos isso”, destacou a jornalista Cláudia Jurberg, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), que mediou o debate. Um dos objetivos da Diretoria de Comunicação Social da Uerj (Comuns), ao organizar o evento, é justamente tornar o saber científico mais próximo da sociedade, possibilitando também a participação da Universidade no debate público sobre temas sensíveis à população fluminense.

Anderson Namen, professor do Instituto Politécnico, apresenta os desafios de sua pesquisa, que visa reduzir os impactos ambientais pela coleta e compostagem de resíduos

Abrindo a rodada, o professor Anderson Namen, do Instituto Politécnico, apresentou os objetivos e os desafios de sua pesquisa, que visa reduzir os impactos ambientais por meio da coleta e compostagem de resíduos. Uma das grandes motivações do projeto é atuar na diminuição dos gases do efeito estufa, contribuindo com o planeta ao mesmo tempo em que promove uma nova maneira de pensar o descarte e a reutilização dos resíduos orgânicos produzidos diariamente. Com o auxílio da tecnologia e da inteligência artificial é possível reduzir custos e otimizar os processos logísticos de coleta e compostagem, com rotas otimizadas e monitoramento das leiras. Além disso, o projeto desenvolveu um aplicativo em que os interessados podem se engajar e participar de um sistema de recompensas, estimulando a coleta seletiva. Os participantes contam também com um assistente virtual para o esclarecimento de dúvidas e apresentação de curiosidades. Por fim, Namen destacou que “um dos desafios é criar soluções práticas, aplicáveis ao dia a dia. Temos que sair da academia e criar um produto que seja usado pela população”.

Cesar Amaral, professor do Ibrag, destaca a importância das pesquisas desenvolvidas na Antártica desde a década de 1980, com o Programa Antártico Brasileiro (Proantar)

Contribuindo para a conversa, o professor Cesar Amaral, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag), sublinhou a importância das pesquisas desenvolvidas na Antártica desde a década de 1980, com o Programa Antártico Brasileiro (Proantar). “Por que não colocamos 17 canhões lá? Por que não colocamos 17 contratorpedeiros? Nós colocamos 17 laboratórios de pesquisa, porque é a pesquisa que manda na Antártica”, declarou. Cesar enfatizou a presença da Uerj desde a primeira expedição, a Operantar I, no verão de 1983, e trouxe dados sobre os módulos Criosfera 1 e Ipanema, ambos instalados pela Universidade na região, atuando no monitoramento em tempo real e no envio de informações diretamente para o Brasil, fundamentais para pesquisas sobre o clima e outros temas. O professor também falou sobre a aplicação dessa tecnologia, desenvolvida para ambientes extremos, em regiões tropicais como o Rio de Janeiro, indicando a possibilidade da elaboração de mapas de poluição do ar por meio de atualizações em tempo real, exemplo de ferramenta para uma melhor gestão pública.

Já o pesquisador da PUC-Rio Jorge Lopes demonstrou como a tecnologia 3D vem sendo aplicada em diversas áreas, da preservação de artefatos históricos a avanços no campo da saúde. Por exemplo, algumas peças do Museu Nacional haviam sido tomografadas antes do incêndio de 2018, permitindo que parte da história se mantivesse resguardada. Na medicina, essa tecnologia tem sido um diferencial em casos cirúrgicos mais complexos, tornando possível não somente imprimir o órgão ou região a ser estudada, como também gerar uma imagem virtual. Nesse aspecto, o professor ressaltou a convergência com outras áreas, como a criação de metaversos, em que a equipe de saúde pode se reunir em tempo real para debater as diferentes abordagens e até ministrar uma aula dentro de uma trompa uterina. Jorge Lopes destacou também como o uso dessa tecnologia vem promovendo a inclusão, com a possibilidade de pais com deficiência visual poderem acompanhar o desenvolvimento do bebê ainda no ventre por meio da impressão 3D. “Quando os pais veem o ultrassom do bebê é muito bacana, mas o deficiente visual poder tocar seu filho é fantástico!”, opinou.

O pesquisador da PUC-Rio Jorge Lopes demonstra como a tecnologia 3D vem sendo aplicada em diversas áreas, da preservação de artefatos históricos ao campo da saúde

Concluindo as palestras, o professor Jefferson Santos de Gois, do Instituto de Química, trouxe a química analítica para o debate, expondo novos métodos sensíveis de detecção de poluentes na água a baixo custo. O objetivo principal dessa linha de pesquisa é desenvolver meios de identificar até mesmo o menor traço de contaminação, a fim de detectar pequenas concentrações de resíduos tóxicos, visando combater a bioacumulação. Entre os exemplos de aplicação do método no monitoramento ambiental estão: o reconhecimento e a extensão da contaminação, a implementação do procedimento de controle e um monitoramento que garanta a contenção do problema. “O meio ambiente equilibrado e não poluído é um direito nosso, então, temos que lutar por isso. Para cobrar, a gente também precisa detectar esses poluentes”, refletiu. O pesquisador reforçou a importância do desenvolvimento de técnicas ultrassensíveis de rastreamento de poluentes em baixas concentrações na água, como metais perigosos e o microplástico. A partir do momento que aquele rastro se torna visível, passa ser possível investigar melhor o cenário e propor soluções e medidas preventivas, evitando um agravamento futuro. Jefferson relatou que o foco dos estudos tem sido o Estado do Rio de Janeiro, visando entender o quadro de poluição.

O professor Jefferson Santos de Gois, do Instituto de Química, expôs novos métodos de detecção de poluentes na água a baixo custo

Ao final das apresentações, foi aberto para o público um momento de perguntas e respostas, complementando esse tempo de troca de saberes. Todo o debate foi transmitido ao vivo pela TV Uerj e pode ser assistido no YouTube. A segunda edição do evento continua com as seguintes mesas: Economia, Sustentabilidade e Inovação (18/10); Comunicação da Ciência (19/10); e Saúde (20/10). Confira a programação completa.

O Uerj com RJ é uma iniciativa da Diretoria de Comunicação Social da Uerj, com o apoio da Faperj.

Assista ao debate

Ou ouça a transmissão ao vivo

Fotogaleria do segundo dia do evento