No cenário educacional brasileiro, a discussão sobre cotas sociais e étnico-raciais ganha destaque, sendo impossível abordar o assunto sem mencionar o pioneirismo da Uerj, a primeira instituição de ensino superior do país a implementar o sistema de reserva de vagas há 21 anos atrás. Esse feito inovador serviu como inspiração para a criação da Lei de Cotas, uma década mais tarde, beneficiando milhares de alunos cotistas em todo o Brasil. No entanto, o foco frequentemente recai sobre a admissão nas universidades, deixando em segundo plano a discussão sobre a inserção no mercado de trabalho dos egressos desses sistemas de ações afirmativas.

Para abordar essa questão, o professor Rafael Bastos (foto), coordenador de um projeto de pesquisa que analisa a inserção profissional dos egressos do sistema de cotas da Uerj, foi convidado a participar do oitavo episódio da décima temporada do Uerj Entrevista. Com vasta experiência acadêmica, Rafael Bastos é bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com mestrado e doutorado em Políticas Públicas e Formação Humana pela Uerj. Atualmente, é pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e também atua como professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Uerj.

No bate-papo, Bastos compartilhou detalhes sobre o projeto de pesquisa que coordena, destacando a necessidade de compreender a trajetória profissional dos egressos do sistema de cotas da Uerj. A análise abrange desde a preparação desses graduados para o mercado de trabalho até os desafios que enfrentam ao buscar empregos. Segundo ele, o estudo revela que os concluintes do sistema de cotas têm potencial de preparo para o mercado de trabalho, uma vez que as políticas de cotas não apenas proporcionam acesso à educação superior, mas também garantem suporte e oportunidades de desenvolvimento.

Quanto ao impacto das cotas na construção de carreiras, o professor argumenta que o sistema contribui significativamente para o desenvolvimento profissional dos cotistas. Embora seja necessário um esforço conjunto para eliminar condições abusivas de empregabilidade, ele ressalta que as cotas proporcionam bases sólidas para o sucesso profissional, permitindo que os egressos alcancem posições mais altas na hierarquia ocupacional.

Bastos destaca que a inserção profissional por meio das políticas afirmativas não apenas possibilita uma transformação pessoal para os estudantes, mas também desempenha um papel na mudança da estrutura das classes sociais. As ações afirmativas desafiam o racismo estrutural ao fornecer oportunidades iguais, permitindo que os cotistas ocupem posições que historicamente lhes foram negadas.

Além dos benefícios profissionais, as políticas afirmativas enriquecem a diversidade nas universidades. No caso específico das cotas da Uerj, elas contribuem para um ambiente acadêmico mais inclusivo, promovendo a troca de experiências entre estudantes de diferentes origens sociais e étnico-raciais. Isso cria oportunidades para quebrar estereótipos e preconceitos, resultando em um ambiente de aprendizado mais rico e estimulante.

A entrevista ressalta a importância das cotas sociais e étnico-raciais não apenas na admissão universitária, mas também na inserção profissional e na transformação da estrutura social. O sistema de cotas não apenas prepara os estudantes para o mercado de trabalho, mas também contribui para a promoção de uma sociedade mais justa.

O professor Rafael Bastos estará no Uerj com RJ 2023, na mesa Educação e Ações Afirmativas, no dia 16 de outubro, às 14h.

Ouça, na íntegra, sua participação no oitavo episódio da décima temporada do Uerj Entrevista.