A atenção primária à saúde (APS) é uma das práticas de enfermagem que envolve ações de prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde. A pesquisa “Enfermeiros e equipes da atenção primária de saúde no contexto da pandemia de Covid-19: reconfiguração do trabalho e das práticas para cenários futuros”, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), aponta as mudanças trazidas com o período pandêmico. Helena David, professora e coordenadora do projeto, comenta sobre os resultados do estudo no sétimo episódio da décima temporada do Uerj Entrevista.

Helena David possui graduação em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP) e mestrado e doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Foi diretora da Faculdade de Enfermagem da Uerj de 2012 a 2016 e atualmente é professora do departamento de Enfermagem de Saúde Pública na Universidade.

A pesquisa “Enfermeiros e equipes da atenção primária de saúde no contexto da pandemia de Covid-19” conta com professores de Enfermagem e pesquisadores de diferentes estados que, junto com suas equipes formadas por alunos, realizam o estudo por meio de entrevistas com profissionais da área e com um questionário on-line que pode ser respondido por qualquer trabalhador da atenção primária no Brasil.

Em três anos de trabalho, alguns resultados se destacaram, como a importância da enfermagem para além da técnica, mas também como uma prática social, e o comprometimento da profissão com o Sistema Único de Saúde (SUS) como um sistema público e universal. Outra conclusão foi que a pandemia de Covid-19 evidenciou a relevância dos enfermeiros, técnicos e auxiliares que ajudaram desde a chegada dos pacientes aos hospitais até a vacinação.

A APS é a “porta de entrada” para o SUS e é formada por ações de saúde individual e coletiva para a promoção do bem-estar. Propõe acolher e dar resolutividade à maioria das questões e necessidades de uma população.

A atenção primária sofreu com mudanças durante a pandemia. A professora Helena aponta que houve um “esquecimento” da prática por conta da gravidade da situação, já que as pessoas precisavam de uma atenção hospitalar e de emergência. Porém, a relação que é estabelecida entre as equipes de saúde e as comunidades permitiu a percepção de que nem todos poderiam fazer quarentena, pois muitos precisavam sair para trabalhar, e ações foram realizadas para ajudar os moradores de áreas carentes. Outra modificação que continua até os dias de hoje é o uso do teletrabalho nos atendimentos. “Isso de alguma forma permaneceu em muitos municípios e muitas experiências no Brasil, que passaram a contar com o uso da telessaúde como parte do processo de trabalho”, afirma David.

A telessaúde faz parte da Estratégia de Saúde Digital do Brasil e tem como objetivo melhorar os serviços de saúde em geral. Ela engloba teleconsultoria, telediagnóstico, tele-educação e a segunda opinião formativa, que, de acordo com Ministério da Saúde, “é uma resposta sistematizada, construída com base em revisão bibliográfica, nas melhores evidências científicas e clínicas e no papel ordenador da atenção básica à saúde, a perguntas originadas das teleconsultorias, e selecionadas a partir de critérios de relevância e pertinência em relação às diretrizes do SUS”.

A professora Helena David menciona que um outro estudo de base internacional mostra que a saída dos trabalhadores da área tem sido vista como um problema para diversos países. Isso tem acontecido por causa da sobrecarga de trabalho e da falta de reposição dos funcionários que se aposentam.

Ouça, na íntegra, sua participação no sétimo episódio da décima temporada do Uerj Entrevista.