Com o vislumbre de uma sociedade livre da pandemia de Covid-19, definir medidas para uma retomada econômica sustentável se torna urgente. Foi exatamente sobre novas perspectivas de desenvolvimento que os convidados do terceiro encontro do “Uerj com RJ – Ciência, Tecnologia e Inovação: propostas para o Rio de Janeiro pós-pandemia” dialogaram. O evento, que teve como tema “Economia, Sustentabilidade e Inovação”, ocorreu na última terça-feira, 17 de maio, no Teatro Noel Rosa. Os palestrantes puderam também debater com o público presente e com aqueles que acompanharam a transmissão ao vivo pelo canal da TV Uerj no YouTube, com a mediação do jornalista Rodrigo Polito, consultor editorial da plataforma MegaWhat.

Abrindo o painel, a professora Leticia Cotrim, da Faculdade de Oceanografia (Faoc/Uerj), alertou para os impactos das práticas cotidianas nas mudanças climáticas e na alteração dos oceanos. A pesquisadora é uma das autoras do 6º Relatório de Avaliação do Clima do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e integra a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima). “Temos consciência de que será necessário nos adaptarmos, porque as mudanças climáticas já estão acontecendo. O oceano mudou e não voltará ao que era”, ressaltou. “Com a janela aberta pela crise pandêmica, é necessário mudar a forma que a economia funciona, se quisermos manter o aquecimento global dentro dos limites definidos no Acordo de Paris”.

Complementando, o professor Adacto Ottoni, da Faculdade de Engenharia (FEN/Uerj), apontou a interligação de tudo que existe na natureza e as consequências da ação humana, destacando aspectos referentes às crises hídrica e energética no país e questões de saúde pública. Segundo ele, medidas voltadas à preservação e regeneração dos rios, por exemplo, minimizariam os impactos nos oceanos, bem como a falta de recursos hídricos, tanto para o consumo humano como para geração de energia elétrica. Outro ponto destacado por ele foi o efeito nocivo dos aterros sanitários, para os quais existem alternativas mais baratas e menos agressivas ao meio ambiente, sendo necessário levar em consideração aspectos que vão além da economia. “As políticas públicas e soluções técnicas têm que melhorar a vida das pessoas, pois não existe sustentabilidade ambiental com miséria”, afirmou.

A conversa caminhou para o conceito de interculturalidade apresentado pelo ambientalista Edson Kayapó, professor do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Em sua fala, Kayapó destacou pautas relacionadas aos indígenas e sua inserção no processo técnico/científico, evidenciando o conhecimento ancestral dos diversos povos e suas contribuições para a preservação da natureza. Para ele, a pandemia potencializou ainda mais a crise econômica, comprometendo a preservação dos povos indígenas e de suas terras. E a solução dos diversos problemas que a questão envolve está diretamente relacionada à educação e à promoção de políticas públicas que garantam condições básicas de existência e direitos para essas comunidades, em um trabalho conjunto com todos os brasileiros para desenvolver ações sustentáveis.

O professor Eduardo Murad, do Instituto de Artes e Comunicação (UFF), encerrou as apresentações do dia trazendo o conceito de “pensamento sistêmico” para o debate e refletindo sobre o que realmente seja inovação. Conforme destacou, a inovação não se resume apenas aos aparatos tecnológicos, abrangendo também ações e outras formas de agir que melhorem a qualidade de vida das pessoas. Ele propôs o desenvolvimento e incentivo de cadeias produtivas inteligentes, promovendo uma economia circular, além da necessidade de se repensar sobre formas mais conscientes de consumo.

No próximo encontro do Uerj com RJ, no dia 24 de maio, às 14h, no Teatro Noel Rosa, será discutido o tema “Comunicação da Ciência”. Acompanhe a nossa programação e inscreva-se.

Assista ao terceiro encontro do Uerj com RJ na íntegra.